01/06/2010

O reencontro


A penumbra ilude a presença de corpos que não vemos, mas, sabemos, estão lá. Promessas sussurradas, desejos confessados, avidez juvenil travestida na vontade voraz, adulta e saudosa.

O frio impõe pijamas, cobertas, aconchego de corpos em conchas... Tudo à espera da nudez prometida, inevitável e consentida e a janela que emoldurou a agonia de olhares perdidos, saudosos, distantes agora se esconde atrás de pesadas cortinas.

Olhares, carícias, gestos e toques libertam os primeiros gemidos reprimidos, sob sons sacros de um Shankar e um raga distante perfuma de sândalo o leito cálido e profano.

As vontades se ampliam e céleres, repartem com a sofreguidão das esperas indesejadas, o encontro prometido.

Corpos arqueiam, enroscam-se, envolvem-se, encaixam-se, doam-se em serpenteantes movimentos rumo ao lúdico, como algo que flutua entre o tântrico e o vulgar.

Novos gemidos, mais fortes, rabiscam as paredes que isolam o mundo daqueles corpos, agora nus, descobertos, indefesos em seus desejos e sem testemunhas.

Bailam como um par de grous apaixonados em vôo rasante.

Pequenas obscenidades revelam o descontrole dos orgasmos que se anunciam. Então, urros de prazer, cúmplices, uníssonos rasgam a madrugada chuvosa em direção ao absurdo prometido das paixões.

E corpos desenhados em seus suores, pela tênue luz da tela de um notebook, descansam enfim, a saudade, num longo abraço que só se desfará com as primeiras luzes da próxima manhã.

Anderson Fabiano

Imagem: Gethy

3 comentários:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu querido amigo
Muita sensualidade neste belo poema.

Beijinhos
Sonhadora

Helena Chiarello disse...

Tuas letras desfilam - sussurradas, confessadas, com a avidez juvenil travestida na vontade voraz - e deitam-se na emoção que as lê...

Diante do que diz, nem há o frio da estação. Há o calor do verbo que desenha olhares, carícias, gestos, toques e instantes profanamente divinos! Há o ardor do pensamento que percorre fervorosamente cada palavra - e eleva-se, em ondas espiraladas como as que se formam na fumaça quente de um incenso de sândalo - e que flutua, como só conseguem flutuar as notas dolentes de uma cítara cúmplice e encantada.
Há o pulso febril do coração a acompanhar e a absorver o ritmo, a beleza e a intenção de cada frase...

Uma tênue luz revelaria as gotas que ficaram na emoção, depois de tudo...

Lindo demais, barba!
Te beijo, amo, beijo... Sempre, e mais...

Flor.MCecilia disse...

Querido Anderson.Um envolvente encontro,de amor,e bem Sensual,na forma de nos contar bem envolvente,aconchegante..Muito bom,delicias de ler.Show.Bjuss\Mil\Flor**