20/03/2010

Enquanto você dormia...


Queria saber falar de coisas cujas verdadeiras dimensões, desconheço.
Preciso entender como o mar se junta ao céu lá longe, no horizonte, sem que as nuvens se molhem, nem as estrelas percam seu brilho, tragadas pelas ondas. Desconheço o limite exato entre o sonho e realidade.
Queria saber do amor todas as nuanças, versões, aparências, embalagens e formas. Mas, não sei. Só sei amar. E, se penso ser grande meu amor, como saber se ele é maior que outro? Se é bastante, perceptível, bem recebido, correspondido, ideal... Mas, desconheço a verdadeira dimensão do amor. Só sei dos meus suores inexplicáveis, da taquicardia, do meu brilho no olhar, da minha vontade de um estar, do sorriso que me desenha o corpo, correndo louco pelas veias e artérias.
Queria saber explicar como consigo necessitar de um alguém, numa escala rara, que perpassa o próprio amor...
Queria poder emocionar (sempre) a fêmea que escolhi pra dividir uma varanda sossegada, num futuro que fica bem depois daqui e nem sei se vai existir...
Na verdade, esse queria não tem nada de pretérito e muito menos, de imperfeito. É só uma vontade louca de saber dizer: amo você.
Anderson Fabiano
Imagem (edit): Getty

16/03/2010

Amo sim


Amo sim. Não um amor descrito na chatice das bulas do previsível, mas o amor ungido pelo imponderável, aquele irracional, sem sentido, desprovido de lógicas. Amo dobrar uma esquina, dar de cara com você, perder o fôlego, ficar gago das mãos, sentir o sangue fugindo da face e não encontrar uma única palavra inteligente, nesse nosso vastíssimo vocabulário, para dizer. E amo mais ainda, perceber que você percebeu tudo isso em mim e riu, discreta e marotamente, como convém às boas amantes no prenúncio de uma nova paixão.
Amo sim. Não um amor desses da moda, modernoso, tipo matéria de capa de revistas idiotas de capas bonitas. Amo apenas, o único amor que conheço, aquele que eleva o espírito, inunda a alma, rouba o ponteiro da bússola e, com ela, o norte de tudo. Amo como nos folhetins ou filmes de capa e espada. Amo a eterna busca da alma gêmea, da cara metade. Amo apenas como quem acredita no depois. Por isso, se você só consegue ter para mim, a próxima noite, sem direito a dia seguinte, pode até ser bom, mas, não é você que busco. Para os curativos, prefiro band-aid e o velho mercúrio cromo.
Amo sim. Amo não ter pudores e torcer, a cada manhã, que você me chegue como a mais discreta e elegante imperatriz, para consumo externo e a mais despudorada e devassa meretriz, para inadiável troca de segredos dos nossos encontros. Amo estar seu e poder senti-la estando minha, na mais cartesiana interpretação do ser e estar.
Amo sim. E se consegui chegar até aqui, a despeito dos medíocres, das feridas nos pés e na alma é porque sei que está, cada dia mais próximo, o mágico momento em que você me sorrirá nos olhos e entregar-me-á sua alma aos cuidados e afetos, que reservei para você.
Amo sim. Porque só a você confiarei meu melhor amor. E, já que é possível que eu tenha dito isso a outro alguém, em algum dia, preciso, desde já, confessar, que menti.
Anderson Fabiano
Imagem: Filipe Pires (Olhares)